quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Felipe - Sonho que vira triste realidade

A Copa do Mundo será no Brasil! Eu sempre sonhei com isso, desde que aos 10 anos de idade acompanhei conscientemente o torneio pela primeira vez. E foi justamente no ano do tetra. Apesar do ídolo Raí ter sido sacrificado em nome do “esquema”, eu chorei e vibrei como uma verdadeira criança, o que de fato, na época, eu era.

Imaginem, acompanhar as principais seleções do mundo, um dos maiores – se não o maior – evento esportivo do planeta. E de pertinho, no meu país, na minha cidade. Algo indescritível para qualquer apaixonado pelo esporte bretão. Mas com o passar dos anos eu fui enxergando melhor as coisas. O gosto pelo futebol e pela Copa do Mundo não diminui, em absoluto. Mas a relação com ambos sim, e bastante. O esporte aos poucos deixa de ser a coisa mais importante. A vontade de ver uma Copa no país ainda era forte, mas as prioridades começavam a se inverter.

Eu agora enxergava que nessas candidaturas o que as pessoas queriam não era apenas trazer um grande evento para o país, mas sim se auto-promover e ganhar dinheiro, na maioria das vezes de maneira ilícita. Confesso que quanto mais a consciência foi se moldando, mais o sonho ficava distante. Pois era muito claro que o país não tinha condições de receber um evento desse porte, além de precisar priorizar a aplicação de verbas em coisas importantes e básicas para a vida no país.

Contudo veio a decisão e o Brasil, único candidato, foi o escolhido para sediar a Copa de 2014. Nada mudou nessa historia de receber grandes eventos. O Pan do Rio foi a prova. Denúncias de desvio de verbas, orçamento aumentado em mais de 300%, o governo tendo que entrar com dinheiro que não deveria e, conseqüentemente, causando escassez de recursos para as áreas devidas. Isso sem contar que nenhuma melhoria urbana aconteceu. Exceto as maravilhosas arenas esportivas, mas que têm um alto custo de manutenção e riscos de se transformarem em elefantes brancos.

E nada tira da minha cabeça que com a Copa do Mundo, tudo será da mesma forma, se não pior. Nossa atual estrutura urbana beira o caos. Nossas praças esportivas estão quase todas ultrapassadas e ridiculamente mal conservadas (meus pêsames aos familiares das sete vítimas fatais da Fonte Nova). Nossos políticos ainda são desonestos e não pensam na população. Tomara que em sete anos tudo isso mude, mas realmente eu não acredito nessa hipótese. E não venham com a história de que o país será obrigado e se modernizar, pois, repito, o Pan esteve aí para provar o contrário.

Também é bom lembrar que a escolha como país sede já deu seus frutos. Sim, a Copa ainda está longe, mas uma CPMI, a que investigaria a clara e límpida lavagem de dinheiro no Corinthians, sequer foi aberta. E dizem os congressistas, pelos corredores de Brasília, que nenhum tema “negativo” a respeito do futebol será colocado em pauta. Tudo em nome da Copa! E pouco ou nada em nome da decência.

Sim, eu gostaria de ver a Copa no Brasil. Mas dependendo do preço a ser pago, não vale a pena. Se é que já não valeu...

Nenhum comentário: