quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Zé - Rodapés de 2006 a Delírios de 2014

Dezembro de 2008, bar do Miro no Rudge Ramos, os ABCDs[1], entre bohemias e petiscos, firmaram o “Pacto do Miro”: marcaríamos presença na Copa do Mundo no Brasil. A Comunidade do orkut “Copa do Mundo 2006 eu vou[2]” mudou-se para “CM-14 eu estou”.

“Tintim!!!” Já bêbados e, de madrugada, um ruidoso brinde, tanto que meia dúzia de vizinhos de mesa pegaram carona na palhaçada e aplaudiram o ato, pois nele havia também um caráter épico.

Propus uma Fan Fest[3] no Kazu, bar onde às terças fazemos nossa reunião semanal, a idéia foi prontamente aceita. “Traremos mulheres de todo mundo, da Croácia, da República Tcheca etc, do Togo até!”, emendou o entusiasmado e emocionado Faggi.

Thiago, recém chegado de Barcelona havia um ano, lançou o mistério que, segundo ele, duraria seis anos! “Nem adianta, ninguém vai saber! Até porque até lá será difícil se confirmar.” Paciência então.

Junho de 2014. Tudo pronto para a XX Copa do Mundo. Veremos se o autor de uma das frases mais absurdas que já ouvi tinha razão: “Em 2014 o Brasil vai ensinar a vocês [alemães] como se faz uma Copa!!![4]

A onda ecológica nunca esteve tão presente num mundial. Ainda mais se jogada no pulmão do planeta, a Amazônia, com Manaus como uma das sedes. O mascote, antes que ele suma do mapa, é o mico-leão-dourado “Amico”. No concurso final ele bateu a Mônica com coelho e tudo.

País afora os locais de Fan Fests eram definidos de acordo com seus atrativos turísticos: no Pelourinho em Salvador, presença de Olodum e todo o aparato micareta; Palácio do Planalto em Brasília; nas areias de Copacabana no Rio; Parque do Ibirapuera em Sampa etc.

Confirmei uma triste convicção: a Copa do Povo foi celebrada nessas festas, não nas arquibancadas. Ou você achou que, com a grana toda torrada, ingresso na mão dos patrocinadores, preços internacionais e “cambismo”, você compraria seu ingresso como banana na feira?

A putaria por ingressos nos Trópicos foi intensa, ainda que nossos dedos estivessem treinados de tanto F5[5]. Sem contar que ser cambista é profissão internacional[6]. Outra profissão – a de flanelinha – estava em alta, treinaram por anos antes de estrear em mundial. Ou alguém acha que a promessa por estacionamentos fartos seria cumprida?

16 de junho, Brasil vs Togo[7] estavam alinhados ouvindo o hino nacional, assistíamos no telão do Ibira. Os ABCDs e um “T” internacional. De Togo, isso, havia entre nós, acreditem, um togolês amigo. Ele, um dos maiores mitos de nossa ida à Praga-06, o Cartola[8] e sua inseparável cartola.

Thiago em 08 foi à capital tcheca e desde então manteve contato com ele. Fez o maior suspense de todos os tempos. O placar do jogo, coincidentemente, era a quantidade de brasileiros e togoleses na animada roda do parque, 4x1 em cima de Adebayor e cia. O Cartola nem ligou para a derrota já que adotara o Brasil como segunda pátria, mesmo morando em Praga por 10 anos. “The girls are beautiful, mmmuuummmm!!!”, explicava.

A Copa do Mundo tupiniquim começou bem...

[1] Por uma coincidência do destino alfabético, a Copa da Alemanha-06 uniu Edson Véião de Santo André, Rodrigo Faggi de São Bernardo do Campo, Thiago de São Caetano e, por último em letra e ordem cronológica de aparecimento, eu, de Diadema. Os ABCDs.

[2] A maior comunidade do orkut sobre a Copa da Alemanha. Lá fiz grandes amigos (os ABCDS e o Zadá, por exemplo), tive um imenso suporte de informações sobre o torneio, além do entretenimento. Enfim, foi o motor de toda a viagem e é a comunidade, disparada, que eu mais me identifiquei. Tá pensando que orkut é só pra ferrar relacionamentos, é?

[3] Todas as cidades alemãs escolhiam um local turístico ao ar livre ou mesmo ginásios, onde havia telão, shoppings, eventos etc. Alguns com arquibancadas; em Frankfurt o telão ficava no meio do rio. O local recebia enorme concentração de pessoas do mundo inteiro. Uma festa! Ou, uma Fan Fest!

[4] Zadá contou que estava na fila do Ticket Center de Berlim e presenciou que o ingresso de um rapaz a sua frente não estava na lista, e ele tinha confirmação. Reclamou, xingou, esperneou e mais, ameaçou dedo em riste e disparou o disparate entre aspas. Adoraria encontrá-lo pós Mundial e pedir a virtual e incomparável comparação...


[5] Na incessante luta para conseguir ingressos no site da Fifa, nas madrugadas, se pressionava a tecla “F5” do computador até cansar o dedo e gastar a tecla. E a mensagem de erro – e tortura – vinha em quatro idiomas. Eu penei apenas duas madrugadas por quatro, cinco horas esperando pela última tela – a de sucesso – sem ela nunca aparecer. Os outros dormiram ao computador, sofreram meses por um milagre. Alguns ratos e sortudos conseguiram.

[6] Comprei meu ingresso de um croata. Paguei 200 euros numa operação que só quem presenciou acredita. Pra resumir eu entrei e o ingresso do cambista deu sinal vermelho?! Quem critica cambistas no Brasil saiba que a praga é mundial, no mundial germânico só mudou o idioma e a moeda: the black market in euros. Na comunidade da Copa houve denúncias que os ex-jogadores do Tetra-94, Viola e Paulo Sérgio, vendiam ingressos na maior caruda.

[7] A comunidade tinha uma fixação na Seleção de TOGO – eu achava isso um porre –, mais que segundo time era o grito de guerra. Thiago e Bruna (gata da comunidade que ninguém nunca viu) exageravam que fariam intercâmbio nesse país africano. Essa dupla, aliás, fora eleita, respectivamente, rei e rainha togolesa da comunidade.

[8] A Praça Venceslau de Praga é uma durante o dia, com seu charme arquitetônica e de noite, assume ares de night club em quase cada estabelecimento, com dezenas de promoters africanos aliciando os turistas a entrarem. Distribuiam flyers promocionais das casas. O mais figura disparado é o “Cartola”, como o apelidei. Só de olhá-lo em foto (acima), com o detalhe do dedinho apontado para esquerda, já morro de rir.

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